terça-feira, 15 de setembro de 2009

Pentecostalismo e Educação Teológica: um sopro de esperança

por Reinaldo Castro

Penso que existe enorme relevância nesse tema, porque começamos a sentir novos ares sendo soprados no universo da educação teológica. É cada vez maior o número de membros de igrejas pentecostais que buscam o conhecimento teológico através de instituições acadêmicas de maior consistência, sendo a Faculdade de Teologia da UMESP um excelente exemplo. A FaTeo conta hoje com significativo número de alunos pentecostais na graduação e uma “esperançosa” atuação dos pentecostais na pós-graduação em Ciências da Religião.
Esse quadro tem que ser louvado, pois indica uma tendência extremamente positiva para as igrejas pentecostais, além de oferecer novas possibilidades para a Faculdade de Teologia ampliar seu campo de convivência e troca de experiências com o mundo pentecostal. Leonardo Boff, teólogo católico, já nos lembrou: “Precisamos entender os pentecostais, porque eles mais do que compreender Deus, buscam senti-lo...”. Esse relacionamento poderá, sem dúvida, gerar muitos frutos.
O grande retrocesso do mundo pentecostal com relação à educação não é pelo fato de não se estudar – já há muito tempo as igrejas pentecostais tem investido em seminários teológicos para seus membros – a questão é que a teologia que é ensinada nesses espaços é uma versão “pobre” do fundamentalismo teológico. Esse ensino além de não promover crescimento na vida do aluno, vende a ele uma falsa idéia de que ao estudar já teve contato com os grandes temas da discussão teológica, quando na verdade foi-lhe vendido um produto adulterado, que não funciona e ainda tem prazo de validade vencido.
A igreja pentecostal sofre hoje por não contar em seus quadros com pessoas de bases teológicas sérias. Talvez o maior reflexo disso seja o crescimento exagerado dos grupos neopentecostais, que a meu ver são frutos dessa escola que não busca o ensino teológico como instrumento libertador.
É notório o grau de imobilismo dos pentecostais frente às mudanças do mundo moderno. Destaco o esforço do pastor pentecostal Ricardo Gondim (mestre em Ciências da Religião pela UMESP) que em uma pregação conclui: “Descobri que durante minha vida toda fui muito fundamentalista”.
Que ótimo podermos já sentir essa brisa soprando em nossas vidas, então louvo a Deus por esse despertar. Tenho certeza ser esse o único caminho que nos levará a uma verdadeira transformação como povo que se enxerga e sabe sua missão nesse maravilhoso mundo: construir os valores do Reino de Deus. Que assim seja!

Reinaldo Castro é membro da Igreja Pentecostal o Brasil para Cristo

O Profetismo da Teologia

Por Daniel Souza

A teologia causa medo. Ela traz crises. Dolorosos e férteis conflitos. Para os mais conservadores e fechados à novidade, ela anula a fé simples. Uns dizem: “prefiro a fé simples àquela pregada pelos teólogos”. Enquanto outros do mesmo grupo afirmam: “A teologia deve servir a Igreja, é para essa instituição que ela foi criada”. Desde que entrei nas esteiras do fazer-teológico, escuto, de forma repetida, muitas palavras contrárias ao profetismo da teologia, que se mostra como adversário, contrário ou “fora da visão” de certos modelos e instituições. Diante dessas considerações, nasce a pergunta que procura trazer sinais a essa realidade que levantei: a teologia está a serviço de quem ou de que instituição?
Teologia é antes de tudo hermenêutica, interpretação. Um esforço profundamente humano de compreender a ação e o amor de Deus por meio da realidade. A teologia se mostra, assim, como ato segundo (Gustavo Gutierrez). Ela procura falar sobre a vontade de Deus para o mundo e para a humanidade a partir da vida. Dessa forma, ela procura, sendo hermenêutica, trazer críticas, perguntas e algumas respostas às indagações que são geradas em nossas Igrejas e em nossa sociedade.
Ao se fazer teologia, não devemos partir de conceitos, embora com eles nos sintamos mais seguros. A vida é o centro! Dessa maneira, a teologia fortalece a fé. Não a fé que deseja ficar presa no monte da transfiguração (Mc 9) em cabanas para aprisionar e privatizar o sagrado. Uma fé simplória e egoísta. Mas fortalece uma fé movida por uma espiritualidade da descida, que se encarna no mundo, nas planícies, lutando contra os sinais de morte (Mc 9) e partilhando os pães e os peixes para que ninguém tenha fome (Mc 6)!
Com estas palavras, volto à pergunta: a teologia está a serviço de quem ou de que instituição? Karl Barth, teólogo alemão, apresenta a tensão existente entre Igreja e Reino de Deus. Aqui está um ponto importante da minha reflexão. O Reino de Deus não é a Igreja! Ela faz parte deste reinado, mas indubitavelmente, o Reino é maior que as nossas estruturas eclesiásticas. A Igreja é um lugar construtor de teologia, mas não tem o monopólio do pensar a fé (ainda bem!). A teologia serve ao Reino de Deus, que está centrado na vida! Reinado que se mostra contra a idolatria: do mercado, dos nossos conceitos, das nossas instituições provisórias e falíveis (Barth); reinado que tem como destinatários preferenciais as vítimas, os mais pobres, lutando pela vida justa (Jon Sobrino); reinado que caminha para a nova criação, salvando todo o mundo e a humanidade (Jüngen Moltmann). Sabemos que algumas teologias preferem outras trilhas, mais comerciais. Mas a que caminha pelos passos de Jesus não servirá aos projetos do anti-reino, não servirá a Igreja enquanto esta instituição caminhar contra a vontade de Deus e contra o evangelho... A boa teologia estará a serviço das Instituições quando elas forem “porta-voz” e testemunhas do Reino, visando o bem-estar integral do ser humano e da criação.
Por fim, a teologia é profética e será contrária a fé que domestica, que iguala (uma produção em série de novos fiéis), que reproduz respostas mofadas para situações novas. Uma teologia enraizada nessa fé responde apenas às necessidades do mercado e de uma sociedade tecnológica. Prefiro a teologia que caminhe pelo profetismo, pois nela não silenciamos a nossa voz e as nossas idéias, permanecemos na acidez da denúncia e na poética esperança do Reino...

Daniel Souza é batista

Vitória da democracia!

Por Luis Fernando.

Na última eleição para o CAJW (Centro Acadêmico John Wesley) tivemos uma importante vitória: a vitória da democracia, pois certamente foi ela, em primeiro lugar, que saiu vitoriosa.
As chapas tiveram a oportunidade de expor suas propostas em todas as turmas, dialogar com os eleitores durante os intervalos e, principalmente, participar do processo democrático para a construção de um Centro Acadêmico (C.A.) mais participativo através da militância política. Isso é um fato relevante frente à realidade política brasileira, que vem a corroborar uma afirmação feita certa vez pelo jornalista Franklin Martins de que a consciência eleitoral no Brasil está mudando, pois a cada vez o eleitor torna-se mais exigente na escolha de seus representantes.
Pode-se atribuir isso ao fato da população estar cansada de ver o exercício político de forma errada, como por exemplo, o acúmulo pessoal de poder, despotismo e falta de ética - o que é desprezível. Em outras palavras isso significa dizer que uma política que não é participativa tende a ser privilégio de uma casta, de um grupo ou mesmo de uma classe. A participação democrática deve abarcar as demandas de todos os representados. Fora disso, ainda que com o título de democracia o que há são estruturas idolátricas de poder.

“Os reis das nações as dominam e os que as tiranizam são chamados Benfeitores. Quanto a voz, não deverá ser assim; o maior dentre vós torne-se como o mais jovem, e o que governa como aquele que serve”. (Lucas 22, 25-26).

Um Centro Acadêmico João Wesley que pretende fazer uma gestão democrática e participativa deve estar desprendido de “ensimesmamentos” e da ambição pelo poder; trabalhar sempre descentralizado de si; focado nas necessidades alheias e sempre pautado na humildade, no compromisso com a ética e com a verdade, respeitando e ouvindo todos/as acadêmicos/as de nossa faculdade, valorizando sua participação. Isso se faz na convicção de que um C.A. democrático (ainda que numa instituição confessional), não se faz pelo exercício do poder e muito menos como uma extensão institucional, mas sim no caminho participativo, sempre focado no bem comum.

Luis Fernando é metodista.

A importância da teologia e as outras religiões

Por Danielle Mozzena

Realmente, a teologia não deveria ser vista apenas como um saber relacionado ao universo cristão. Isto viria de encontro inclusive à sua própria gênese, que ocorreu num contexto pagão, na Grécia antiga.
Compreendo a teologia como sendo uma “maneira de se pensar a religião”, podendo ser aplicada não apenas ao estudo cristão, mas a todas as outras manifestações religiosas da cultura humana. Apesar de nossa realidade como estudantes de teologia cristã, poderemos transferir o conhecimento recebido das aulas e aplicá-lo em um contexto religioso diferente, se abrirmos mais nossa capacidade de percepção.
Por causa disso, vejo a teologia como uma “aproximadora” de pessoas, pois ao compreender teologicamente o seu próprio contexto, e pensar no contexto do outro da mesma maneira, percebe-se que o/a outro/a nada mais é do que uma pessoa assim como nós mesmos, com as mesmas complexidades humanas.
Já que o/a teólogo/a é o “pensador da religião”, o estudo teológico que ele realiza sobre um determinado tema de uma religião não precisa estar, necessariamente, vinculado à sua própria opção religiosa. Para que esta seja uma experiência de sucesso, o/a teólogo/a deve deixar todos os seus conceitos pré-concebidos de lado para que possa realmente realizar um estudo teológico que não caia nos méritos de “verdade” ou “mentira”, porque no campo das religiões não existe tal classificação, já que todas as manifestações religiosas são uma realidade da cultura humana.
Tentar compreender o universo divino do/a outro/a é agir pacificamente e receber todas as informações com um sorriso sincero no rosto, considerando aquela manifestação religiosa tão valiosa como qualquer outra. Isso não significa que devamos “aceitar” a religião estudada, mas sim, que ela deva ser tratada com o mesmo respeito que tratamos a nossa.
Esta postura requer muito esforço das pessoas, já que a religião mexe com as emoções mais secretas do ser humano, podendo fazer surgir preconceitos. Por causa disso, também acredito que o/a teólogo/a necessita desenvolver um alto grau de inteligência emocional, pois ao lidar com a religião, lidará com a fé das pessoas e também com elas próprias, tendo a delicadeza de não desrespeitar ou demonstrar nenhum tipo de comportamento relacionado à prática religiosa de outrem.
A teologia pode ser uma ferramenta muito útil para aproximar pessoas – de diferentes religiões ou não - desde que o/a utilizador/a saiba usá-la da maneira correta, pensando o tema da religião com inteligência emocional e sem preconceitos.

Danielle Mozena é budista